TRAFARIA, Quinta-feira, 4 de Dezembro de 1980
A caserna albergava cerca de 30 recrutas. Era a véspera da prova final, que se previa dura, e que iria ditar a classificação final dos elementos do pelotão: os que seriam promovidos e os que ficariam para trás. Por isso o silêncio imperava, o que não era habitual pois geralmente as brincadeiras e a algazarra prolongavam-se até tarde! Mas nessa noite até o algarvio estava calado, e o matosinhense também! Eram eles os mais conflituosos, todos os dias se pegavam um com o outro. Mas nessa noite, não! Concentração total para o dia seguinte!
Foi quando alguém cortou o silêncio e gritou do fim da sala: «O Sá Carneiro morreu!». Alguns tinham um pequeno rádio de pilhas e ficavam ouvindo música até adormecerem. Os que estavam deitados mas acordados puseram-se de pé, surpreendidos. Logo depois veio a confirmação, que ainda não era bem confirmação, era uma suposição pois os jornalistas ainda não tinham chegado ao local, Camarate, em Lisboa, segundo parecia.
Passaram-se longos minutos até se saber mais alguma coisa: então, o que se foi divulgando durante umas horas foi que o 1.º Ministro Francisco Sá Carneiro e o Ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, tinham morrido na sequência da queda da avioneta em que se deslocavam de Lisboa para o Porto. Com eles presumia-se que tinham morrido também os restantes passageiros – que não se sabiam bem quem eram – e o piloto.
Instalou-se um burburinho tal – uns falavam de «atentado, de certeza!», outros eram mais moderados – mas a verdade é que o facto de se irem realizar eleições presidenciais três dias depois com uma disputa muito acesa entre Ramalho Eanes (apoiado pelo PS e pelo PCP) e Soares Carneiro (apoiado pela Aliança Democrática), indiciava que o «acidente» podia não ter sido exactamente um acidente.
O aspirante do pelotão veio à caserna pedir silêncio num tom de voz suave que nos deixou intrigados, pois geralmente ele era muito duro. Algum tempo depois voltou para comunicar que a prova final do dia seguinte fora cancelada e que o quartel estava em estado de alerta!
É claro que quase ninguém dormiu nessa noite, e o dia seguinte amanheceu com a confirmação das mortes, acrescentando-se a elas a companheira de Sá Carneiro, Snu Abecassis.
Bom, como já devem ter percebido, eu estava na tropa nessa altura e por lá fiquei mais um ano e tal. Apesar de as minhas convicções serem anti-militaristas, na altura não tive outra hipótese senão alinhar. Se me fez bem ou mal, não sei…
Foi quando alguém cortou o silêncio e gritou do fim da sala: «O Sá Carneiro morreu!». Alguns tinham um pequeno rádio de pilhas e ficavam ouvindo música até adormecerem. Os que estavam deitados mas acordados puseram-se de pé, surpreendidos. Logo depois veio a confirmação, que ainda não era bem confirmação, era uma suposição pois os jornalistas ainda não tinham chegado ao local, Camarate, em Lisboa, segundo parecia.
Passaram-se longos minutos até se saber mais alguma coisa: então, o que se foi divulgando durante umas horas foi que o 1.º Ministro Francisco Sá Carneiro e o Ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, tinham morrido na sequência da queda da avioneta em que se deslocavam de Lisboa para o Porto. Com eles presumia-se que tinham morrido também os restantes passageiros – que não se sabiam bem quem eram – e o piloto.
Instalou-se um burburinho tal – uns falavam de «atentado, de certeza!», outros eram mais moderados – mas a verdade é que o facto de se irem realizar eleições presidenciais três dias depois com uma disputa muito acesa entre Ramalho Eanes (apoiado pelo PS e pelo PCP) e Soares Carneiro (apoiado pela Aliança Democrática), indiciava que o «acidente» podia não ter sido exactamente um acidente.
O aspirante do pelotão veio à caserna pedir silêncio num tom de voz suave que nos deixou intrigados, pois geralmente ele era muito duro. Algum tempo depois voltou para comunicar que a prova final do dia seguinte fora cancelada e que o quartel estava em estado de alerta!
É claro que quase ninguém dormiu nessa noite, e o dia seguinte amanheceu com a confirmação das mortes, acrescentando-se a elas a companheira de Sá Carneiro, Snu Abecassis.
Bom, como já devem ter percebido, eu estava na tropa nessa altura e por lá fiquei mais um ano e tal. Apesar de as minhas convicções serem anti-militaristas, na altura não tive outra hipótese senão alinhar. Se me fez bem ou mal, não sei…
8 Comments:
Quantas pessoas não foram para a tropa se sentirem nesse papel... imagino que não foi fácil. Quanto à morte de Sá Carneiro vai continuar no segredo... Um bom filme para rever ou ver "Camarate". Um beijinho
Até que enfim alguem comenta o aniversário da morte de Sá Carneiro, que seja-se lá de que quadrante politico se for, deveremos encarar como um grande politico com uma morte trágica, junto com o amor da sua vida e Adelino Amaro da Costa.
Como foste o unico que eu vi a comentar e a contar onde estava quase dá vontade de perguntar por ai: E tu onde estavas quando morreu Sá Carneiro?
Como habitualmente se faz em relação ao 25 de abril.
Estranhamente não me lembro onde estava quando soube a noticia.
Lembro-me de no meu romântico pensamento ter pensado que ele e snu pelo menos tinham morrido juntos.
Até já.
Isabel
Eu tinha 1 ano de vida... parece tão longínquo!
Tropa? Politica? argggggggggghhhhh
Vai contra a minha religião!!
(Cobrindo-me de enxofre... just in case...)
Sobre o "acidente" de Sá Carneiro. Digo-vos que Portugal hoje não seria esta mediocridadade toda se ele não tivesse falecido...
Também gostaria de deixar aqui registada a minha indignação pelas brincadeiras de mau gosto que ontem se observaram no "Gato Fedorento" a propósito dessa tragédia.
Outro daqueles casos que nos envergonha: não só pelo que aconteceu, mas também por ser um dos muitos que prescreve neste país. Não temos remédio!
Bjs
Por acaso ontem também me recordei desse dia, que por vezes parece tão distante.
Estava a frequentar o meu curso de professora em Lisboa. Quem diria que passados estes anos encontro-me no mesmo edíficio e novamente a a estudar...
ISUTIL,
Olá, somos da mesma idade (shiu, não se pode dizer, então tu que és uma dama, hehehe), por isso certos acontecimentos marcaram-nos porque tempo a vida era politicamente mais intensa. Agora... não acontece nada...
Beijokas!
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